Entrevista cedida ao Site Mundo 8
Mundo 8: Como você define o intra-empreendedor?
AG: Uma pessoa que está sempre buscando inovar em seu trabalho. Que procura novas formas e estratégias para alcançar o que deseja com excelência. Que apresenta soluções onde a maioria apresenta problemas, se arrisca, se destaca no meio de um grupo. Que faz de seus talentos pessoais seu diferencial competitivo.
Mundo 8: É possível comparar as dificuldades e vantagens de um intra-empreendedor com as vividas por um empreendedor? Quais são elas?
AG: Creio que o que muda é o tamanho do ecossistema: macro ou micro. Quando falamos de um empreendedor, falamos do macro ecossistema. Nossos pensamentos são direcionados para aquele que está buscando caminhos para transformar uma idéia em um negócio, uma empresa. Quando me refiro ao intra-empreendedor, falo do micro ecossistema, daquela pessoa que está buscando reconhecer seus talentos pessoais e transformá-los em um diferencial competitivo. Tentando fazer de seus talentos o seu negócio de vida, seja lá em que local esteja atuando.
Mundo 8: Ser intra-empreendedor é um dom ou uma necessidade de sobrevivência?
AG: Acredito que intra-empreendedorismo não é um dom, mas uma habilidade, que pode ser inata ou potencializada. Assim, no mercado de trabalho competitivo, no qual estamos inseridos, se preocupar os diferenciais competitivos é um ponto de sobrevivência. Pessoas capazes de se destacarem no que se propõem fazerem é as que estarão nas cabeças dos processos. Aquele que não se destaca, que fica apenas preocupado com desenvolver o que é comodities, será esquecido nos processos de promoção interna de qualquer empresa.
Mundo 8: É mais fácil (se é que é possível usar esse termo) ser intra-empreendedor em uma micro empresa ou dentro das estruturas fortalecidas das multinacionais?
AG: A questão não é onde se trabalha, mas sim traçar um plano de metas para a carreira. Onde se está e onde se quer chegar. Assim, as empresas pelas quais passará, serão apenas parte da estratégia de um processo intra-empreendedor, e não a base de tudo. Contudo, estruturas de das grandes empresas, sem dúvida, oferecem maiores possibilidades de um crescimento dentro da mesma empresa. Algumas pessoas podem se sentir melhores nestas condições. E por que não?
Mundo 8: Como um micro empresário pode reconhecer e incentivar um colaborador com perfil intra-empreendedor?
AG: A partir da gestão de talentos uma empresa pode alavancar a excelência no desempenho dos membros de uma equipe de trabalho. Quando um funcionário tem a oportunidade de trabalhar a partir de seus talentos naturais, sua produção será infinitamente melhor e com mais qualidade. Promoções com base nos talentos são uma grande mola propulsora, mas de nada adiantará se o micro empresário não tiver espaço para ouvir novas ideais e quebrar paradigmas.
Mundo 8: Quais são as principais características de um intra-empreendedor?
AG: Sagaz, para perceber as situações e as possibilidades inerentes á elas.
Flexível, para ser capaz de se ajustar a diferentes contextos e imprevistos.
Oportunista, no bom sentido da palavra, para reconhecer as oportunidades nas piores situações.
Corajoso, pois o diferente, o questionador incomoda a ordem estabelecida nas relações.
Inovador, para buscar um olhar diferente do ponto comum. Apresentar soluções e ações novas onde todos só visualizam uma repetição de idéias.
Mundo 8: É possível disseminar o perfil intra-empreendedor na equipe de trabalho?
AG: Com certeza. Aliás, esta é uma responsabilidade do gestor da equipe. Abrir espaços para aceitar sugestões e idéias, reconhecer talentos e locar os funcionários de acordo com o que possui, incentivar a inovação, são formas de desenvolver uma cultura organizacional voltada para o intra-empreendedorismo. A Caterpillar teve no ano de 2008, mais de 35.000 idéias vindas de funcionários – entre revisões de processos da fábrica, de expediente e de novas formas de produção. Não foi à toa que a Caterpillar foi a primeira colocada no Guia Você SA/Exame – As Melhores Empresas para Trabalhar – 2009. O intra-empreendedorismo trás satisfação pessoal.
Mundo 8: É normal o intra-empreendedor ser incompreendido pela falta de preparo dos seus líderes?
AG: Talvez esta seja a situação mais comum. A mudança de foco na gestão empresarial é um processo difícil, pois estamos falando de gestores e diretores que já estão lá e que aprenderam dentro de um modelo antigo e um pouco defasado, neste aspecto. Cabe, neste caso, ao intra-empreendedor, ser sagaz, flexível, oportunista, inovador e corajoso.
Mundo 8: Como o intra-empreendedor equilibra a sua vontade de realização e as limitações de decisão por não ser dono ou líder da empresa?
AG: Para que o funcionário não entre em choque direto com a cultura organizacional, é fundamental que, como já disse, desenvolva as características da sagacidade e da flexibilidade. É preciso identificar cada situação, perceber as possibilidades e ser capaz de se ajustar aos diferentes contextos. Se a pessoa não se sente à vontade dentro do contexto, há sempre duas possibilidades: tentar mudar o rumo da história ou buscar outra história.
Mundo 8: No momento que um intra-empreendedor reconhece que chegou ao limite dentro de uma organização ele deve se tornar um empreendedor ou deve encontrar outra empresa que lhe dê mais espaço?
AG: Esta é uma pergunta bastante complexa. Não tenho uma resposta para ela, tenho muitas. Para cada situação, haverá uma solução. Veja bem, conseguir administrar sua carreira profissional não é a mesma coisa que administrar uma empresa, onde estão em jogo a carreira de várias pessoas. Trabalhei em uma escola onde uma professora excelente, com um domínio de turma fabuloso, recebeu uma promoção e foi convidada a assumir a Coordenação Pedagógica. Em um ano ela perdeu todo o reconhecimento que havia conseguido em anos. Resultado: foi demitida por falta de capacidade! Cada vida tem um rumo e um caminho, e a única pessoa capaz de saber qual é o melhor, é a própria pessoa, mais ninguém. O que me parece a melhor solução, pode não ser para você.
